Talvez um astrólogo pudesse dizer que o destino está escrito nas estrelas, e um astrônomo discordasse. Fato é que nem sempre o sucesso é planejado, mas com certeza precisa ser construído.

Nem 6 mil habitantes, e Cocal dos Alves se torna notícia nacional. E notícia boa. O município piauiense tem uma escola que virou referência para todo o país no ensino de matemática: a escola de Ensino Médio Agostinho Brandão.  

Mas, para chegar a esse reconhecimento, muito trabalho foi feito por um grupo de professores que acreditou na educação. E quis fazer diferente.


 “Nós tínhamos o propósito de trabalhar fazendo o que não foi feito com nós, quando alunos. No aspecto de que a gente recebia o básico do básico. Não tínhamos, digamos assim, não era tido tanta preocupação com a nossa formação no que diz respeito ao meu preparo para a sequência nos estudos. E o que eu fiz, talvez assim, o que nós queríamos na época, não era só eu, era fazer algo diferente. Quer dizer, dar toda uma condição para nossos alunos, apesar de todas as dificuldades que nós tínhamos na época. Uma escola com uma estrutura muito abaixo do ideal. Não tínhamos sequer livros didáticos, entre outras coisas.”

Foi com esta determinação que o jovem professor Antônio Cardoso do Amaral começou a dar aulas, ainda durante o primeiro ano de faculdade, aos 21 anos de idade.  Depois de 14 anos de trabalho, Antônio atribui ao esforço coletivo o sucesso da escola.

“Mas assim, porque foi um grupo, nada só dá pra fazer, inclusive eu sou tido as vezes assim muito mais em evidência, principalmente porque a primeira competição que os alunos apareceram foi em matemática, mas eu consigo achar que tem trabalho muito mais forte do que o meu aqui na escola, na cidade. É sempre um resultado do todo, do grupo, da escola de modo geral, não só de matemática.” 

Junto dos colegas, Antônio viu o interesse dos estudantes aumentar dia após dia, e as conquistas em competições de diversas áreas acontecerem. Com a primeira participação na Olimpíada de Matemática, a turma inscrita pelo professor, com 25 alunos, conquistou 17 medalhas. E de lá para cá, a participação e as premiações só aumentaram. 

“Então, eu atribuo que, digamos assim, o envolvimento desses meninos pra estudar mais acaba com que eles, de certa forma, repercute na sala de aula deles e vai atraindo outros. Quando eles se juntam pra estudar ou fazer um trabalho, ou então mesmo vai inspirando através de exemplo de alunos que são premiados e vai atraindo outros. Então, esse espírito foi se propagando de certa forma aqui, de modo que, em matemática, especialmente em matemática, a gente logra sempre desse excelente resultado. E eles conseguem entrar nos seus cursos, ou seja, no final do terceiro ano, pelo menos 7 de cada 10 alunos conseguem entrar em um curso bom através do Sisu, do Enem.”

Antônio nasceu em um pequeno distrito de Cocal dos Alves, que nem energia elétrica tem. E foi uma seca brava que levou a família para a cidade, onde viveu desde os 7 anos de idade. Pais analfabetos, coube a uma tia, também professora, incentivar os estudos de Antônio. 

“O que me trouxe até a sala de aula foi, principalmente, a necessidade extrema de um trabalho, de um emprego, de uma sustentabilidade. Quando eu era estudante, eu talvez fosse uma das carreiras que eu não quisesse seguir. Mas foi por ironia, talvez, do destino que eu cheguei até isso. Mas assim porque todos nós, inclusive esse é um grande esforço que nós temos, todos nós somos filhos de pessoas que não tiveram oportunidade.”

 O professor de matemática ficou sabendo do programa de mestrado profissional, o Profmat, que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a Capes, oferece para que os professores da rede pública possam dar continuidade à formação. Em parceria com as universidades públicas, a Capes oferece diversos cursos de mestrado profissional na modalidade a distância. 7.412 professores ingressaram no mestrado entre os anos de 2011 e 2015. 1.862 já concluíram. 3.372 continuam estudando.


Qualquer pessoa pode se inscrever para os cursos. Contudo, os profissionais de educação têm prioridade.

Sobre o Profmat, Antônio não tem dúvidas...

“Eu consegui ir até o fim do mestrado profissional, o ProfMat. Foi a minha melhor formação enquanto professor. Porque a graduação foi ruim. E qualquer outra formação eu não tive. Então essa foi a minha melhor até agora das que eu participei.”